quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Uma Breve gênese do "Manifesto que fez História"

O MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA

CRONOLOGIA

1834 - Nasce a ”Liga dos Banidos”.
1836 – Nasce a “Liga dos Justos”.
1838 – Wilhelm Weitling publica “A humanidade tal como é e tal como deveria ser”, e praticamente estabelece o programa da liga, fixando seu princípio diretor: “a comunidade dos bens é o meio de salvar a humanidade; ela transformará, por assim dizer, a terra em paraíso”
1839 - 12 de maio, os blanquistas organizam um levante em Paris e os membros da Liga se unem a eles. A revolta foi rapidamente sufocada e uma parte dos membros da Liga foi aprisionada e outra teve que fugir para a Inglaterra e a Suíça. O centro da organização se transferiu para Londres, onde havia maior liberdade política.
1842 – Com a publicação do livro “Garantias de Harmonia e Liberdade”, Weitling consolida sua posição de principal cabeça pensante do comunismo alemão.
1843 – Transcorrem discussões em Londres – nas quais se destacam Scapper, Heirich Bauer, Karl Pfander e Albert Lehman. Determinando assim, a afirmação de novos princípios e disposições no interior da liga. Passam a ser rejeitados, por exemplo, os utópicos planos de construir nova sociedade através da instituição de colônias comunistas, tais como as idéias golpistas e conspirativas
1844 – Agosto, Marx e Engels se conhecem.
1845 – Janeiro, Marx é expulso de Paris
1846 - Marx e Engels começam a participar mais ativamente do movimento político e fundam em Bruxelas o comitê de correspondência comunista.
1847 – Em Janeiro, Joseph Moll em nome da autoridade Central da Liga dos Justos, encontra-se com Marx e Engels. Ambos ingressam na Liga; o Comitê de Correspondência Comunista torna-se praticamente uma “comuna” da organização.
Realiza-se entre 2 e 9 de junho em Londres, o congresso convocado pela circular de novembro de 1846, onde o congresso referenda a conversão da Liga dos Justos em Liga dos Comunistas.
Em junho é elaborado “Projeto de Profissão de Fé”, Engels participa da redação.
Em outubro, Engels insatisfeito com o teor e o caráter dos textos em discussão, redige para a Liga um novo esquema provisório de programa: “os Princípios do Comunismo”.
Em 29 de novembro, e 8 de dezembro em Londres, realiza-se o segundo congresso da Liga. Após mais de Dez dias de discussões, Marx e Engels recebem o encargo de redigir o Manifesto.
Marx retorna a Bruxelas e retoma o trabalho de lapidação e divulgação de sua teoria. Entre 14 e 30 de dezembro pronuncia diversas conferências na associação Operária Alemã, e estas, as conferências, posteriormente deram origem ao ensaio “Trabalho Assalariado e Capital”.
1848 – Em janeiro, Marx lê o “Discurso sobre livre câmbio” na associação democrática; enquanto isso a redação do “Manifesto” pouco avançava, a ponto, do Comitê central da Liga, dirigir-se ao Comitê Regional de Bruxelas, solicitando que se notificasse “o cidadão Marx de que serão adotadas contra ele severas sanções caso o Manifesto do Partido Comunista, de cuja redação ele foi encarregado no último congresso, não chegar a Londres até o próximo dia 1 de fevereiro”. E é ainda intimado a caso não fosse redigir o “Manifesto”, devolvesse os documentos a ele facilitados pelo congresso.
Marx “toma vergonha” e logo nos primeiros dias de fevereiro, inicia o trabalho, com a colaboração de Engels. Três semanas depois o texto estava concluído, e pronto para ser enviado a Londres e iniciar a carreira, que tímida e imprevisível no inicio; culminou em plena vitória.
Fevereiro, Explode a revolução em Paris. Março, o Comitê Central da Liga em Londres transfere seus poderes para o círculo dirigente de Bruxelas. Delega-se a Marx a tarefa de constituir um novo Comitê Central em Paris. Entre 15 e 19 deste mesmo mês, o movimento revolucionário obtém vitórias em Viena e Berlim. Abril; Marx e Engels fixam residência em colônia. Maio; decidem interromper a atividade da Liga na Alemanha (contra a vontade de diversos dirigentes) e atuar publicamente no movimento democrático.
Adquirem o controle de um antigo jornal republicano, “A Nova Gazeta Renana”, o rebatizam com o subtítulo de “órgão da democracia”, transformando-o, num autentico diário revolucionário.
As comunas de Londres, por unanimidade, expulsam o grupo de Marx. Dezembro; o Comitê Central de Colônia apresenta sua analise da situação e critica duramente a decisão londrina.
1851 – Maio; Peter Nothjung emissário do Comitê Central de Colônia, é preso em Leipzig; os documentos com ele encontrados revelam nomes e endereços dos demais dirigentes da Liga, que são detidos ao longo das semanas seguintes.
1852 – Outubro; o veredicto é dado, e condena à prisão, vários membros da Liga.
Novembro, 19; Marx escreve a Engels e registra o encerramento da Liga em Londres. Dezembro; Engels escreve no New York Daily Tribune, denunciando a trama policial e a farsa política, na qual se fundou a prisão dos membros da Liga.

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INTRODUÇÃO


Ao lado, Karl Marx, e Friedrich Engels. Suas colaborações a história do movimento operário e do socialismo são indescritíveis em palavras (ao menos é claro que transcrevêssemos livros e mais livros , o que não vêm ao caso), são as duas maiores cabeças do quadro ao qual nos remeteremos neste texto, ou seja, o desenvolvimento dos fatos que culminaram na redação do Manifesto do Partido Comunista, no caso; tema deste presente trabalho.
Foi através das mãos (e cabeças, é claro) destes dois autores, que o citado Manifesto foi redigido.


O cenário inicial é Paris. A liga dos comunistas surge de uma evolução natural da liga dos justos, e esta, nascida em 1836, surge de uma cisão da Liga dos Banidos, fundada dois anos antes. Foram através destas, que se erigiram os primeiros esboços de organização política da classe operária européia. Como conseqüência dos processos fundados nos entraves da Revolução industrial e francesa, tal decorrência de fatos culminou no amadurecimento da idéia de socialismo, assim, sua organização inicial.
Quatorze anos se passaram desde o primeiro vislumbre de organização, até a redação de um programa político definitivo por parte da Liga. Tentaremos expor nas próximas linhas, em quais condições o Manifesto se desenvolveu, e como se deu o processo que culminou em sua elaboração. E acima de tudo, tentar entender e expressar o universo vivenciado por seus autores.


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CAPITÚLO I

“Os Cabeças.”

Por bem, decidimos começar este estudo, dando uma ficha técnica dos dois autores do Manifesto do Partido Comunista, ou seja, respectivamente: Marx e Engels.
Marx nasceu numa família de classe média. Seus pais eram judeus que tiveram que se converter ao cristianismo em função das restrições impostas à presença de membros de etnia judaica no serviço público. Em 1835, Marx ingressou na Universidade de Bonn para estudar Direito, mas, já no ano seguinte, transferiu-se para a Universidade de Berlim, onde a influência de Hegel ainda era bastante sentida, mesmo após a morte (em 1831) do celebrado professor e reitor daquela universidade. Ali, os interesses de Marx se voltam para a Filosofia, tendo participado ativamente do movimento dos Jovens Hegelianos. Doutorou-se em 1841 com uma tese sobre as


"Diferenças da filosofia da natureza em Demócrito e Epicuro". Nesse mesmo ano, concebeu a idéia de um sistema que combinasse o materialismo de Ludwig Feuerbach com a dialética de Hegel.
Impedido de seguir uma carreira acadêmica, tornou-se, em 1842, redator-chefe da Gazeta renana. Com o fechamento do jornal pelos censores do governo prussiano, em 1843, Marx emigra para a França. Naquele mesmo ano, casou-se com Jenny von Westphalen. Desse casamento, Marx teve cinco filhos: Franziska, Edgar, Eleanor, Laura e Guido. Franziska, Edgar e Guido morreram na infância, provavelmente pelas péssimas condições financeiras a que a família estava submetida. Marx já havia sido privado da oportunidade de seguir uma carreira acadêmica na Alemanha pelo recrudescimento do absolutismo prussiano, que tornava suas posições como hegeliano de esquerda inaceitáveis, e, com a Revolução de 1848 e o exílio que se seguiu a ela, foi obrigado a abandonar o jornalismo na Alemanha e tentar ganhar a vida na Inglaterra como um intelectual estrangeiro desconhecido com meios de subsistência precários, sofrendo, assim, a sorte comum destinada pela época às pessoas destituídas de "meios independentes de subsistência" (isto é, viver de rendas), e sua incapacidade de ter uma existência financeiramente desafogada não parece ter sido maior do que a dos seus contemporâneos Balzac e Dostoievsky. Durante a maior parte de sua vida adulta, sustentou-se com artigos que publicava ocasionalmente em jornais alemães e estadunidenses, bem com por diversos auxílios financeiros vindos de seu amigo e colaborador Friedrich Engels. Tentava angariar rendas publicando livros que analisassem fatos da história recente, tais como "O dezoito brumário de Luís Bonaparte", mas obteve pouco retorno com essas empreitadas.*1

*1 - Texto retirado do site: www.wikipedia.com.br/marx

Protetor e principal colaborador de Karl Marx, Engels desempenhou papel de destaque na elaboração da doutrina comunista. Nasceu em 28 de novembro de 1820 e morreu em 5 de agosto de 1895. Era filho de um rico industrial de Barmen (Alemanha), é o principal colaborador de Karl Marx na elaboração das teorias do materialismo histórico. Na juventude, fica impressionado com a miséria em que vivem os trabalhadores das fábricas de sua família. Quando estudante, adere a idéias de esquerda, o que o leva a aproximar-se de Marx. Assume por alguns anos a direção de uma das fábricas do pai em Manchester e suas observações nesse período formam a base de uma de suas obras principais: A situação das classes trabalhadoras na Inglaterra, publicada em 1845.




Muitos de seus trabalhos posteriores são produzidos em colaboração com Marx, o mais famoso deles é o Manifesto Comunista (1848). Escreve sozinho, porém, algumas das obras mais importantes para o desenvolvimento do Marxismo, como Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia alemã, Do socialismo utópico ao científico e A origem da família, da propriedade privada e do Estado.*2
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“A Luta pela Luta”

Estamos em Paris, 1838, dois anos após a o nascimento da Liga dos Justos, o alfaiate Wilhelm Weitling publica: “A humanidade tal como é e tal como deveria ser”. Estabelecendo através desta, um direcionamento no programa político da Liga, e fixando seu principio diretor, a comunidade de bens. É também nesse período; a Liga se filia a peculiar versão alemã do socialismo utópico. Em 1842, Weitling lança: “Garantias de Harmonia”, e consolida sua posição de principal cabeça pensante do comunismo Alemão.
A liga agia em sua totalidade, através de associações públicas operárias de instrução, canto ou ginástica, tendo nelas “cobertura” às atividades secretas da organização, pode implantar-se na França, na Suíça e na Inglaterra. Não ficou como era de se esperar, inerte a influência multifacetadas de movimentos e doutrinas socialistas preexistentes em cada um desses paises. Sendo assim, a Liga começava a ampliar seus horizontes; onde, em Londres, o socialismo utópico, baseado em planos de construir a nova sociedade através de colônias comunistas, ou golpes e conspirações, tão comumente resgatadas até então, recebe a influente (e transforma tória) presença da moderna classe operária das trade unions, e do movimento cartista. Este, a partir de 1839 com a fundação da National Charter Association, engaja-se numa luta pela conquista dos direitos civis e políticos para os trabalhadores. O Socialismo começava sua transição para o “plano” presente, deixando de lado a idéia de construir um mundo novo a partir das cinzas do velho.

*2 - Texto retirado do site: www.wikipedia.com.br/engels

As discussões que transcorrem entre 1843 e 1846 acabam por firmar os novos princípios e disposições no interior da liga, tanto que Weitling deixa de ser o principal ponto de referência, sendo igualmente abandonada sua tese de que a revolução nasceria do sentimento, da vontade e da paixão, a Liga resolveu por o “pé no chão”, aos poucos refletindo uma guinada no sentido transformatório da sociedade, e visualizando a revolução, como o resultado de um longo processo que combinava propaganda, ação permanente e organização. Em outras palavras, começavam a pensar como partido.

“A vontade sem ciência é manca e a ciência sem vontade é cega.”

Afirma-se então ser indispensável um embasamento científico para uma revolução social. É ai que o terreno começa a ficar dócil para a aproximação dos intelectuais que, por caminhos diversos, buscavam elaborar uma teoria crítica do socialismo.

Enquanto isso em Bruxelas...

Em agosto de 1844, Marx e Engels se conhecem em Paris. O encontro se deu através da visita que Engels fez a Marx, e segundo suas próprias palavras: “ficou patente nosso completo acordo em todos os campos teóricos, e data de então nosso trabalho comum”. Desse encontro originaram-se diversos trabalhos nos cinco meses que separam a transição da residência de Marx, que partiu de Paris (pois havia sido expulso), para Bruxelas. Foi após a situação descrita que ambos tomam como objetivo principal a elaboração de um texto em oposição ao ponto de vista ideológico da filosofia alemã, surgia ai a “Ideologia Alemã”, inédita até 1932.
A dupla começa a se envolver mais ativamente em movimentos políticos, quando em 1846 fundam o comitê de correspondência comunista. O objetivo principal deste movimento era colocar em contato, socialistas de diversos paises, deixando assim todos a par do desenvolvimento simultâneo dos mesmos. Segundo o próprio Marx: “Desta maneira, será possível difundir opiniões diferentes, trocar idéias e assegurar um criticismo imparcial. Trata-se de um passo com o qual o movimento social poderá firmar-se em sua expressão literária, para então se libertar de suas limitações nacionais” *3

Conversa com Moll.

Em janeiro de 1847, Joseph Moll em nome da Autoridade Central da Liga dos Justos, encontra-se com Marx em Bruxelas e Engels em Paris. Após rápida conversa, decidem ambos ingressar na Liga; o comitê de Correspondência Comunista, torna-se praticamente uma “comuna” da organização.

Engels vai ao congresso.

Entre 2 e 9 de junho de 1847, realiza-se em Londres o congresso convocado por uma circular instituída em novembro de 1846. Marx não comparece a esse congresso, que tem a representação de Bruxelas personificada por Wilhelm Wolff, e de Paris por Engels.
Nesse congresso referenda-se a conversão de Liga dos Justos em Liga dos Comunistas, pois como informa o relatório: “o antigo nome adotado em circunstancias que nada mais têm a ver com os objetivos atuais da Liga” – tornou-se “inadequado e não exprime de forma alguma o que pretendemos”.*4


*3Carta de Marx a Proudhon, 5 de maio in “selected correspondence”,op. Cit. P. 28
*4Relatório do Primeiro Congresso da Liga dos Comunistas in Bert Andréas, op cit., p. 86-87

Ao mesmo tempo, o congresso elaborou, para discussão, um “Projeto de Estatutos” plenamente aberto a modificações de caráter organizativo. E por fim, submeteu às comunas um “Projeto de Profissão de Fé Comunista”, no qual se tentava “evitar todo espírito de sistema e todo comunismo de caserna, bem como os monótonos e estúpidos sonhos sobre o amor, típicos dos comunistas sentimentais e choramingas”, procurando-se “levar sempre em conta as relações sociais, que por si só engendram o comunismo”*5. Eram ambos textos de transição, presos à tradicional teoria da “comunidade de bens” e precários na analise do capitalismo. Mas era um começo, principalmente o citado: “Projeto de Profissão de Fé”, do qual Engels participou da redação.
Os novos estatutos e o projeto de programa foram enviados às comunas da Liga para discussão. Um segundo congresso já era fixado, sendo considerado o fim ano (1847) como um ótimo período para sua realização, para que através deste, fossem tomadas as deliberações finais.

A Luta Continua.

Marx e Engels participam ativamente das discussões comunistas que se dão no segundo semestre de 1847, e ainda, atuam diretamente nas comunas de Bruxelas e Paris. Desenvolvem intensa atividade de propaganda, no intuito de ganhar por dentro e por fora, a “batalha” da recém constituída: Liga dos Comunistas. Começam a partir de agosto, escrever assiduamente na Gazeta Alemã de Bruxelas. Em novembro, participam da fundação da Associação Democrática, que reunia operários revolucionários e elementos de vanguarda da democracia liberal. Marx foi designado vice-presidente.
Em Paris, Engels por sua vez lutava para obter a aceitação de suas idéias pelas comunas. Não satisfeito com o teor e o caráter dos textos em discussão, em outubro redige um novo esquema provisório de programa para a Liga: os Princípios do Comunismo, mais completo e rigoroso, que o primitivo “Projeto de Profissão de Fé”; de junho. De qualquer forma, os Princípios serviriam posteriormente, como base para o Manifesto Comunista.

A dupla Dinâmica vai ao congresso.

Entre 29 de novembro e 8 de dezembro, aconteceu o segundo congresso na liga; a esse Marx também comparece,e polariza toda discussão. Após muitos dias de calorosa discussão e polêmica, recorda Engels, “foram eliminadas todas as duvidas e objeções, os novos princípios foram aprovados por unanimidade e Marx e eu recebemos o encargo de redigir o manifesto”.*6 Estava assim completada a conversão da Liga, que se tornaria desse modo a primeira organização socialista a contar com a participação política direta de Marx e Engels e a se inspirar nas idéias por eles desenvolvidas.

De volta a Bruxelas...

Com o término do congresso, Marx retorna a Bruxelas e retoma o trabalho de lapidação e divulgação de sua teoria. Pronuncia uma série de conferencias entre 14 e 30 de dezembro, na Associação Operária Alemã, que posteriormente dariam origem ao ensaio Trabalho Assalariado e Capital. Em janeiro (1848) na Associação Democrática, lê o discurso sobre o livre câmbio. Tendo como alvo em ambas as ocasiões, o processo de realização do capital e da liberdade de comercio – esta vista por ele como pura “liberdade do capital”.


*5Relatório do Primeiro Congresso da Liga dos Comunistas in Bert Andréas, op cit., p. 96-98.
*6Engels, “Para a História da Liga dos Comunistas”.

A redação do Manifesto estava praticamente estagnada. Somente após uma rigorosa notificação por parte do Comitê Central da Liga (ver cronologia), Marx com ajuda de Engels, inicia o trabalho nos primeiros dias de fevereiro de 1848. Três semanas depois o texto estava concluído e pronto para ser enviado a Londres.

Explode a Revolução.

A revolução explodia quase simultaneamente em quase todo continente europeu, ao mesmo tempo em que o Manifesto era concluído e enviado para a impressão. Em março o Comitê Central da Liga em Londres transfere seus poderes para o circulo dirigente de Bruxelas. No entanto, a capital Belga encontrava-se em estado de sítio, não oferecendo qualquer condição para atividades revolucionarias. É delegada a Marx então, a tarefa de constituir um novo Comitê Central em Paris, cidade para onde todos os dirigentes comunistas pretendiam se transferir. Entre 15 e 19 de março, o movimento revolucionário obtém vitórias em Viena e Berlim. No inicio de abril, Marx e Engels fixam residência em Colônia, um mês depois, contra a opinião de Schapper, Moll e outros dirigentes, interrompem as atividades da Liga na Alemanha e começam a atuar publicamente no movimento democrático. “Enquanto dura a revolução na Alemanha – dirá Marx mais tarde – a atividade da Liga se apagará por si só, já que passavam a existir meios mais eficazes para realização de seus objetivos”.*7 Adquirem então o controle de um antigo periódico republicano, a Gazeta Renana, rebatizam-no com o subtítulo de “órgão da democracia” e o transformam num autentico diário revolucionário.
Desde o seu numero inaugural, em 1 de junho de 1848, o jornal tem como objetivo por parte de Marx e Engels, realizar a critica do próprio partido democrático, denunciar suas vacilações, seus equívocos e ilusões, estimulando a continuidade do processo revolucionário.
Talvez pelo fato de dirigir um dos diários de maior prestigio da época, Marx se torna personagem de destaque no movimento democrático, liderando diversos comitês e associações. Através dessa intensa atividade, e junto com Engels, começará a perceber que, dadas às condições históricas que haviam determinado o desenvolvimento alemão e a formação da burguesia alemã, a aliança entre essa classe e o proletariado era frágil demais para fornecer base de apoio para a revolução.

A liga não esta feliz...

O novo posicionamento de Marx e Engels não agrada nem um pouco a Liga em Londres. São acusados de renunciar à revolução e abandonar os próprios princípios da organização. Formam-se dois grupos dentro da Liga, o de Willich e Schapper, e o de Marx, gerandouma ácida oposição dentro da Liga.
Em 15 de setembro de 1850, Marx consegue aprovar três propostas: dissolver o Comitê Central existente e transferir suas funções para o Comitê Distrital de Colônia; abolir os estatutos em vigor; formar duas organizações distintas da Liga em Londres, sem relação entre si e diretamente ligadas ao Comitê de Colônia, já que, segundo suas palavras: “permanecermos juntos seria pura perda de tempo”.
As comunas de Londres não acatam as decisões, e por “unanimidade”, uma reunião que somente os partidários de Willich e Schapper comparecem, decide-se expulsar i inteiro grupo de Marx. A justificativa para tal decisão será virulenta: era necessário “restabelecer uma sólida organização da Liga” a partir de uma nova direção, isenta de “fantasias sobre o futuro político” e impedia, assim, toda e qualquer iniciativa revolucionaria.


*7Marx, Herr Vogt, tomo I, p. 106

Por fim, o Fim.

Em maio de 1851, Peter Nothjung emissário do Comitê Central de Colônia, é preso. Os papeis com ele encontrados revelam os nomes e endereços dos demais dirigentes da Liga, que são assim detidos ao longo das semanas seguintes. As prisões e os documentos apreendidos, facilitam a montagem de um desproporcional processo, todo fundado em provas falsas, testemunhos forjados e sevícias contra os acusados. Em outubro de 1852, o veridicto é exarado, condenando à prisão vários membros da Liga.
Era o fim da organização, e em carta para Engels, Marx registrará em 19 de novembro de 1852 em Londres o encerramento de toda uma fase: “por proposta minha, a Liga daqui decidiu dissolver-se e concluiu que não há mais qualquer razão para prolongar sua existência no continente”.


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CAPITÚLO II

O Manifesto do Partido Comunista

O Manifesto sugere um curso de ação para uma revolução socialista através da tomada do poder pelos proletários. O Manifesto Comunista faz uma dura crítica ao modo de produção capitalista e na forma como a sociedade se estruturou através desse modo. Busca organizar o proletário como classe social capaz de reverter sua precária situação e descreve os vários tipos de pensamento comunista, assim como define o objetivo e os princípios do socialismo científico. Marx e Engels partem de uma análise histórica, distinguindo as várias formas de opressão social durante os séculos e situa a burguesia moderna como nova classe opressora. Não deixa, porém, de citar seu grande papel revolucionário, tendo destruído o poder monárquico e religioso valorizando a liberdade econômica extremamente competitiva e um aspecto monetário frio em detrimento das relações pessoais e sociais, assim tratando o operário como uma simples peça de trabalho.


Este aspecto juntamente com os recursos de aceleração de produção (tecnologia e divisão do trabalho) destrói todo atrativo para o trabalhador, deixando-o completamente desmotivado e contribuindo para a sua miserabilidade e coisificação. Além disso, analisa o desenvolvimento de novas necessidades tecnológicas na indústria e de novas necessidades de consumo impostas ao mercado consumidor. Afirmam sobre o proletariado: "Sua luta contra a burguesia começa com sua própria existência". O operariado tomando consciência de sua situação tende a se organizar e lutar contra a opressão e ao tomar conhecimento do contexto social e histórico onde está inserido, especifica seu objetivo de luta. Sua organização é ainda maior pois toma um caráter transnacional, já que a subjugação ao capital despojou-o de qualquer nacionalismo. Outro ponto que legitima a justiça na vitória do proletariado seria de que este, após vencida a luta de classes, não poderia legitimar seu poder sob forma de opressão, pois defende exatamente o interesse da grande maioria: a abolição da propriedade(“Os proletários nada têm de seu para salvaguardar”). A exclusividade entre os proletários conscientes, portanto comunistas, segundo Marx e Engels, é de que visam a abolição da propriedade privada e lutam embasados num conhecimento histórico da organização social, são portanto revolucionários. Além disso, destaca que o comunismo não priva o poder de apropriação dos produtos sociais; apenas elimina o poder de subjugar o trabalho alheio por meio dessa apropriação. Com o desenvolvimento do socialismo a divisão em classes sociais desapareceriam e o poder público perderia seu caráter opressor, enfim seria instaurada uma sociedade comunista.
No terceiro capítulo, analisa e critica três tipos de socialismo. O socialismo reacionário, que seria uma forma de a elite conquistar a simpatia do povo, e mesmo tendo analisado as grandes contradições da sociedade, olhava-as do ponto de vista burguês e procurava manter as relações de produção e de troca; o socialismo conservador, com seu caráter reformador e anti-revolucionário; e o socialismo utópico, que apesar de fazer uma análise crítica da situação operária não se apóia em luta política, tornando a sociedade comunista inatingível.
Por fim, no quarto capítulo fecha com as principais idéias do Manifesto, com destaque na questão da propriedade privada e motivando a união entre os operários. Acentua a união transnacional, em detrimento do nacionalismo esbanjado pelas nações, como manifestado na célebre frase: “Proletários de todo o mundo, uni-vos!”
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Conclusão


Tentamos neste texto, sintetizar as condições nas quais se desenvolveu a redação do Manifesto do Partido Comunista, tal como sua importância na história do movimento operário, deixando latente o mérito de seus autores, ou seja, Marx e Engels. Começamos por uma cronologia no intuito de minimizar o desentendimento tão comum quando o que se esta em pauta é de caráter histórico, e assim, se usa de datas para retratar-se. Seguimos com uma breve biografia dos já citados autores do Manifesto, seguindo somente então, para a história da redação do mesmo. No sentido de não retroceder excessivamente na história, e não perder o foco, deixamos de citar a Revolução francesa (1789-1799), esta, transformou (como o autor de nosso texto base retratou) Paris na capital revolucionaria por excelência, sendo assim, a história subejetivamente, começa 45 anos antes da fundação da Liga dos Banidos, que gera a Liga dos Justos, que gera a Liga dos Comunistas.
O que se pode concluir desta análise, é que muita luta teve de acontecer desde a criação do partido (deixando de lado que seus ideais iniciais não caracterizavam a organização como partido) até a redação de um estatuto definitivo, ou seja, o Manifesto do Partido Comunista. Tentamos também deixar claro (pois a olhares mais distraidos normalmente passa-se desapercebido) que revolução não é exclusividade do proletário, e que grande parte das revoluções aqui citadas são partidas da burguesia (esta de grande importância na luta contra a monarquia absoluta). Para finalizar a conclusão, deixamos uma frase de Engels que define bem o espírito do texto:
“A conquista mais importante da revolução é a própria revolução”.